O processo contínuo de aperfeiçoamento realizado na Graça, e que conduz o ser humano ao fim último para o qual fora criado que é a vida eterna com Deus, é o que chamamos SALVAÇÃO.
Mas a salvação deverá fundar-se na ESPERANÇA que provém da fé, e na Misericórdia que emerge da Caridade de Deus. Logo, é certo que afirmar a certeza absoluta e irrevogável da salvação particular é um grave pecado que atua contra a Esperança, a Caridade e a Misericórdia Divina.
E esse pecado é o da PRESUNÇÃO.
Ninguém pode afirmar antecipadamente um juízo que Deus ainda não emitiu:
“Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, VINDO, DEPOIS DISTO, o JUÍZO. (Hebreus 9. 27) ”
“Por isso, NÃO JULGUEIS ANTES DO TEMPO; ESPERAI QUE VENHA O SENHOR. Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece.” (I Cor 4. 3, 4 e 5)
Como não existem os condenados inapelavelmente antes de lhes expirar a vida, também inexistem nesta condição os definitivamente salvos, exceto os predestinados[1].
Em razão disso, não nos é dado o direito de autoproclamarmo-nos salvos ou eleitos.
Deus quer a salvação de todos, e então, a todos capacita e permite acesso as verdades reveladas em seu Corpo Místico que é a Igreja.
Como não sabemos a hora da nossa morte, é importante que conservemos a fidelidade em Deus AGORA:
“Venho em breve. CONSERVA O QUE TENS. (Apocalipse 3. 11)”
https://magisteriotradicaoescrituras.com/2018/08/15/a-perseveranca-e-a-salvacao/
Se o próprio São Paulo, mártir, apóstolo, e que testemunhou CRISTO num encontro face a face jamais ousou se autoproclamar salvo, quem somos nós para assim afirmar?
“Ao contrário, castigo o meu corpo e o mantenho em servidão, de medo de vir eu mesmo a SER EXCLUÍDO depois de eu ter pregado aos outros” (1 Coríntios 9,27) ”
“Portanto, quem pensa estar de pé veja que não caia” (1 Coríntios 10,12)
“Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, bondade para contigo, suposto que permaneça fiel a essa bondade; do contrário, também tu SERÁS CORTADA.” (Romanos 11. 22) ”
https://magisteriotradicaoescrituras.com/2018/08/30/o-pecado-da-apostasia/
O pecado da “confissão positiva”[2] numa das suas tantas vertentes, que está na crença da possibilidade de alguém alcançar definitivamente a salvação eterna antes do fim da existência terrena, é fruto da soberba presunçosa que nodoa, perverte e vicia a Esperança.
Ensinou Santo Tomás de Aquino:
“A PRESUNÇÃO implica uma certa e imoderada Esperança. Por isso, diz as Escrituras: Deus humilha a quem presume de si mesmos. E tal presunção se opõe a Virtude da magnanimidade, que estabelece o justo meio, a ESPERANÇA. (Suma Teológica. Q 21, art. 1º DO PECADO DA PRESUNÇÃO, Livro IIIa)”
O que nos conduz a vida eterna é nossa ESPERANÇA, a qual nos move a esperarmos humildemente em servidão a recompensa no juízo final:
“Com a ESPERANÇA de conseguir a ressurreição dentre os mortos não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me EMPENHO EM CONQUISTÁ-LA, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para frente. PERSIGO O ALVO, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo” (Filipenses 3,11-14)
“[…] em vossa palavra ponho minha ESPERANÇA. (Salmos 118, 81)”
“Quem me dera que meu voto se cumpra, e que Deus realize minha ESPERANÇA! (Jó 6, 8)
A anunciação “uma vez salvo, sempre salvo” é uma tentativa do juízo humano substituir ao Juízo Santo e Perfeito de Deus, o qual ainda nem se realizou.
Conforme ensinou o Apóstolo:
“NEM EU ME JULGO A MIM MESMO. De nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso sou justificado. MEU JUIZ É O SENHOR.” (I Cor 4. 3, 4 e 5)
“Coloca TUA ESPERANÇA no Senhor, ele te salvará. (Provérbios 20, 22)”
Não encontro socorro algum, qualquer ESPERANÇA DE SALVAÇÃO me foi tirada. (Jó 6, 13)”
“terás confiança e ficarás cheio de ESPERANÇA: olhando em volta de ti, dormirás tranquilo; (Jó 11, 18)”
Não há como confundir CONFIANÇA com CERTEZA.
Confiança é fruto da Esperança, sendo a expectativa (e não garantia) da salvação e recompensa futura, condicionada a conservação da fé que atua pela Caridade[3] e da Perfeição[4] que nos move à santidade, segundo a vontade do Coração de Deus.
“És minha ESPERANÇA. (Jó 31, 24)”
“porque vós sois, ó meu Deus, MINHA ESPERANÇA. Senhor, desde a juventude vós sois minha CONFIANÇA. (Salmos 70, 5)
Somos todos réus aos olhos do juízo Divino.
Dar ao réu o poder de se julgar, afirmando sua própria absolvição para daí obter direito à recompensa celestial, implicaria colocar o que irá ser julgado na Função e Poder do Juiz que lhe julga.
Assim o ser humano se tornaria “deus” no Tribunal Celestial.
“Feliz o homem que pôs sua ESPERANÇA no Senhor, (Salmos 39, 5)”
“[…] abandona-te ao Senhor, põe tua ESPERANÇA nele” (Salmo 36,7)
Nossa salvação enquanto nesta vida nos é dada como PENHOR:
“O qual também nos SELOU e deu o PENHOR do Espírito em nossos corações”. (II Cor 1:22)
Penhor é espécie de seguro, depósito para garantia de pagamento futuro.
Mas o devedor só estará coberto do seguro vindo da repercussão do sacrifício de Cristo, mediante os seus efeitos práticos na fé, quais sejam, santidade e caridade:
“Aprenderiam, assim, a PÔR EM DEUS SUA ESPERANÇA, a não esquecer as divinas OBRAS, a observar as suas LEIS; (Salmos 77, 7)”
Penhor ou empenho é promessa futura e condicional, distinguindo-se da certeza que é fato consumado e irrevogável. Portanto, a garantia que decorre da PROMESSA DA SALVAÇÃO, não é absoluta, mas condicional, porquanto assim determinou o próprio Deus:
“Enquanto, pois, SUBSISTE A PROMESSA de entrar no seu descanso, tenhamos cuidado em que ninguém de nós CORRA O RISCO de ser EXCLUÍDO” (Hebreus 4,1)”
Do mesmo modo, selos são marcas perpétuas apenas aos que morrem na Graça de Cristo após encerrada a participação na vida terra.
Selar é encerrar definitivamente para o juízo final ou dia da redenção após a morte, desde que conservemos em nós as práticas da fé necessárias a validação desse selo:
“Exorto-vos, pois: – prisioneiro que sou pelo voto ao Senhor, que LEVEIS UMA VIDA DIGNA DA VOCAÇÃO A QUAL FOSTES CHAMADOS. E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais SELADOS PARA O DIA DA REDENÇÃO.” (Efésios 4.30)
A Esperança, junto com a Fé e a Caridade são as principais Virtudes Teologais.[5]
Pela Esperança somos dispostos a alcançar um Bem Futuro que é a salvação, a qual não está ao nosso alcance e mérito. Não se alicerça na Graça imutavelmente adquirida, mas na Graça que se alcança, e se conserva mediante a Misericórdia de DEUS, para assim chegarmos à vida eterna.
Afirmar-se salvo definitivamente salvo, inibe o temor a Deus, impedindo a confissão espontânea dos pecados, tornando ainda inútil o arrependimento.
Por isso, gravíssimo é o pecado da presunção da salvação.
Embora nenhum fator externo possa interferir para nos afastar da Comunhão com Deus,[6] é certo que o vínculo dessa Comunhão depende do LIVRE ARBÍTRIO[7] do ser humano.
Como ensinou Santo Tomás: “ […] perseverar no pecado, esperando o perdão, é próprio da presunção.” (Suma Teológica, Q 22 art. 1. Da Presunção)
A certeza presunçosa é a perversão da reta Esperança.
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[1] https://afecatolicanasescrituras.blogspot.com.br/2016/12/predestinacao-eleicao-e-providencia.html
[2] A CONFISSÃO POSITIVA é heresia de matriz calvinismo, mas disseminada no meio dos pentecostais. Enquanto no calvinismo, tanto a salvação, quanto condenação são decretos exclusivamente de Deus, não cabendo ao ser humano escolher entre santidade ou pecado, na confissão positiva, o decreto não é de Deus, mas do próprio homem, pela “fé” por conta da interpretação errônea do texto paulino, onde se diz: – “Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. (Rm 10.9)” Ora, a proclamação verbal está embasada na fé (creres de todo coração), e crer de todo coração significa permanecer na vontade perfeita e nos mandamentos santos de Deus. (Jo 14.21) A declaração desse grave erro doutrinário fora escrita pela primeira vez na Declaração de Fé dos Batistas, de 1.689, onde os teólogos confundiram a Virtude da Esperança com o Fato da Certeza da Salvação em vida: “ Esta certeza não é algo meramente conjectural, baseada numa esperança falível, mas uma infalível segurança da fé. “ (Da Segurança da Salvação, item 2)
[3] Gálatas 5.1-6
[4] I Tss 4,7
[5] I Cor 13, 13
[6] As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que me as deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai.” (S. João 10:27-29) “Ninguém pode arrebata-las das mãos do Pai.”
Isso não implica que a ovelha não tenha a liberdade para, inclusive, abandonar o seu pastor, em razão da LIBERDADE DO ARBÍTRIO.